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Da loucura à (quase) cura: o Manicómio Bombarda

No final de Oitocentos, o Hospital de Rilhafoles, em Lisboa, estava na vanguarda da psiquiatria e do estudo de doenças mentais. Tudo graças ao médico Miguel Bombarda, assassinado por um paciente no dia antes da revolução de 1910.

O Hospital Miguel Bombarda, outrora conhecido como Hospital Rilhafoles ou Manicómio Bombarda, foi a primeira instituição médica em Lisboa dedicada exclusivamente ao internamento e tratamento de doentes mentais. O Hospital mudou o seu nome em homenagem ao antigo diretor Miguel Bombarda, assassinado a 4 de outubro de 1910 por um paciente.

Miguel Bombarda (1851-1910), diretor do hospital de 1892 até à sua morte, marca o início “da transição da Psiquiatria para o nível de ciência laboratorial, ao mesmo título das demais disciplinas médicas que já usufruíam da autoridade e do prestígio desse estatuto plenamente científico”, refere António Fernando Cascais, investigador no Instituto de Comunicação (ICNOVA) da NOVA FCSH, num artigo (2017) sobre a coleções fotográficas do Hospital Miguel Bombarda, englobado no projeto denominado “História da Cultura Visual da Medicina em Portugal”.

Em 1896, é erguido o Pavilhão de Segurança panóptico, ou seja, uma espécie de “prisão” onde os doentes mais críticos ou doentes criminosos eram enclausurados e estudados. Miguel Bombarda, citado pelo investigador, chega a escrever, em 1894: “o manicómio é com efeito asilo pelos incuráveis que abriga, prisão pelos doidos perigosos ou criminosos a quem tolhe a liberdade, oficina pelo trabalho que exige a uma grande parte da sua população, laboratório pela ciência que é obrigado a produzir, e até quartel pela rigorosa disciplina que tem de impor, e finalmente hospital”.

Contudo, o seu projeto com mais insucesso foi precisamente o Pavilhão de Segurança. O médico Júlio de Matos chegou a escrever que o pavilhão não preenchia as expectativas, e o médico Sobral Cid aponta que esta foi “a menos feliz das suas criações”, porque encerrava em si a “classe de psicopatas” e que, por isso, devia deixar de funcionar.

O Hospital de Rilhafoles recebia das prisões de Lisboa os detidos que tinham enlouquecido depois de serem presos e os “inimputáveis”. Para António Fernando Cascais, “o Pavilhão de Segurança panóptico do Hospital Miguel Bombarda para reclusão dos loucos criminosos constitui a materialização, como estrutura arquitetónica e como dispositivo, dessa geminação da Criminologia e da Psiquiatria”.

Apesar deste aparente fracasso do Panóptico, Miguel Bombarda teve um papel fundamental noutras áreas, principalmente na área do saber. É o médico que introduz, através do conhecimento adquirido, o ensino e a formação da psiquiatria, que à época não estava englobada no programa curricular das faculdades de medicina.

Fotografia: Cartaz da exposição do centenário do Hospital Miguel Bombarda, em 1948. Retirado do artigo do investigador.

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