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Famílias com rendimento médio não conseguem comprar casa em Lisboa

A compra de habitação na última década na Área Metropolitana de Lisboa (AML) tornou-se difícil para famílias com rendimento médio e para as novas gerações, principalmente nas freguesias da zona histórica de Lisboa.

Comprar casa em Lisboa tem sido uma tarefa hercúlea nos últimos anos. Só de 2016 até ao final de 2018, “na Área Metropolitana de Lisboa o valor do metro quadrado subiu de forma muito considerável”, escrevem João Seixas e Gonçalo Antunes, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Socias (CICS.NOVA) da NOVA FCSH, no artigo (2019) publicado na revista Cidades, Comunidades e Territórios.

 Os investigadores calcularam as taxas de variação do valor do metro quadrado entre 2016 e 2018 e concluíram que em toda a AML a maior subida ocorreu no concelho de Lisboa, em que a taxa de variação foi de 60,5%. Observando em particular os valores da capital, das 24 freguesias da capital, 19 tiveram uma variação superior a 50%, com a freguesia de Santo António a registar um aumento absoluto de 2.400 euros por metro quadrado (uma valorização de 113,5% de 2016 para 2018).

No geral, são as áreas mais “históricas” da cidade que conquistaram o lugar de maior valorização. Contudo, as freguesias de Marvila (62,9%), Santa Clara (29,7%), Lumiar (36%), Benfica (60,7%), Carnide (45,7%) e Olivais (62,7%) tiveram “de igual forma, variações que se podem considerar muito elevadas” para freguesias limítrofes do município.

Além da análise das taxas de variação do valor do metro quadrado, os investigadores calcularam 528 taxas de esforço médias, ou seja, o esforço das famílias para adquirirem habitação. Este cálculo foi feito para toda a AML, por trimestre, e o valor da taxa de esforço média aumentou ligeiramente de 25% para 28%. Dos resultados adquiridos, foi no concelho de Lisboa que se registou a maior subida, com uma evolução de 38%, no início de 2016, para 58%, no final de 2018.

Como o concelho de Lisboa estava acima dos 35% de taxas de esforço média (percentagem normalmente referida pelas entidades internacionais e bancárias para a aquisição de um crédito habitação), o acesso à habitação ficou muito condicionado para um agregado familiar com rendimento médio. Contudo, o estudo demonstra que a AML apresenta grande diversidade neste campo, sendo a taxa de esforço média inferior sobretudo na margem sul do Tejo como, por exemplo, no concelho do Barreiro, que apresenta um valor de taxas de esforço média de 15%.

Nas freguesias de Lisboa, Santo António lidera novamente a lista. No primeiro trimestre de 2016, com 46% da taxa de esforço média para a aquisição de casa, passou para 91% no último trimestre de 2018, seguido das Avenidas Novas (85%), Santa Maria Maior (62%), Misericórdia (69%), Estrela (69%), Parque das Nações (77%) e Belém (80%), embora nestes dois últimos casos “seja conhecida a valorização preexistente do seu metro quadrado”.

Este cenário, vincam os investigadores, agrava o acesso das gerações mais novas à compra de casa, caso dependam delas próprias e do endividamento à banca. Desta forma, nasce um fenómeno cada vez mais visível na cidade: a partilha de casa.

Se a tendência se mantiver, o cenário pode ser desastroso: “Será bastante plausível voltar a alastrar-se na cidade de Lisboa os fenómenos de famílias a residir em “partes de casa”, situação comum nas décadas de 1940 e 1950, o que consubstanciaria num penoso retrocesso civilizacional no contexto da habitação nacional”, afirmam os investigadores. Contudo, com a mudança de panorama devido à pandemia de COVID-19, o mercado de habitação volta a momentos de indefinição.

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