Recuperar as tradições do folclore português é um dos objetivos do projeto EcoMusic, onde Celina da Piedade, investigadora da NOVA FCSH, faz parte. A artista divide o seu tempo entre a academia e a música, contando com colaborações com os Gaiteiros de Lisboa, Samuel Úria, Xutos & Pontapés e ainda duas participações no Festival da Canção.
“Lisboa não é só fado, nem no resto do país são só aquelas grandes práticas pelas quais são conhecidas. No Alentejo não é só canto alentejano e por aí fora.” As palavras são de Celina da Piedade, acordeonista, compositora, cantora, professora e investigadora no Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos de Música e Dança (INET-md), da NOVA FCSH, que integra o projeto “EcoMusic – Práticas sustentáveis: um estudo sobre o pós-folclorismo em Portugal no século XXI”.
O projeto visa recuperar a música folclórica portuguesa através da significação e dinamismo social e cultural que adquiriu no início do novo século. E Lisboa não está excluída. Há mais tradições para além do fado, como as danças e cantares. “De facto, o nosso país é riquíssimo em práticas, sobretudo de âmbito comunitário, e tem mesmo que ver com a música que liga as pessoas”, explica Celina.
O EcoMusic, dividido em pequenos grupos de investigadores, tem como objetivo o levantamento das práticas do folclore português, mas a pandemia não permitiu que acontecesse em 2020, explica a investigadora: “Este [último] ano foi muito mau porque havia muita gente a trabalhar sobre festivais, por exemplo, e iam finalmente fazer o trabalho de campo. Não conseguimos, obviamente”. Porém, o projeto já tem website e espera-se conseguir complementá-lo ainda este ano.
“Este projeto da faculdade é um projeto muito interessante porque tem procurado estes novos investigadores, como eu, que muitos são músicos no terreno, outros são antropólogos, mas conhecem bem o terreno que tratam”. No final, este projeto acaba por ser a interseção dos vários saberes da investigadora, tanto na carreira como na academia. E a composição faz parte do cenário.
“Eu gosto muito de tocar [e compor] para as pessoas dançarem, gosto mesmo muito, sinto-me muito útil. O papel como música e como compositora é muito mais gratificante”, afirma, “porque sinto de facto um grande impacto do outro lado e sinto que as pessoas tiram um verdadeiro prazer ao dançar”.
Um dos projetos dos quais se orgulha começou em 2020, em conjunto com Catarina Moura e Sara Vidal, a convite de Teresa Gentil, também investigadora do INET-md, e profissional na Fábrica das Artes do Centro Cultural de Belém (CCB). Juntas criaram um espetáculo cénico para crianças sobre a infância de Amália, “mas partindo não do fado, mas da música tradicional porque Amália até se tornar fadista cantou muita música da Beira Baixa”, refere.
As três recriaram poemas de tom mais infantil da fadista, utilizando a música tradicional portuguesa como pano de fundo. Contudo, com a pandemia, os espetáculos estão suspensos.
Mas o repertório de Celina da Piedade vai para além do teatro. A acordeonista integra o grupo Tais Quais ao lado de Tim (Xutos & Pontapés), Vitorino, Jorge Palma, João Gil, entre outros, fez parte do grupo Uxu Kalhus e compôs para o grupo Gaiteiros de Lisboa. Lançou três discos a solo, onde os primeiros dois foram patrocinados pelo Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (IELT) da NOVA FCSH.
Entre 2000 e 2017, trabalhou com Rodrigo Leão como multi-instrumentista e compositora, foi membro fundador dos Homens da Luta e foi com eles que ganhou o Festival da Canção, em 2011. Mais tarde, em 2017, foi convidada a compor para a edição do mesmo festival e decidiu participar como cantora, com o tema “Primavera” que competiu com o “Amar pelos Dois” de Salvador Sobral.
Fotografia: Celina da Piedade. Créditos: Rita Carmo.
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