Em Lisboa há 50 pequenos centros comerciais e galerias, mas a sua maioria está devoluta ou em risco de encerramento. São edifícios que ocupam uma área privilegiada da cidade e que carecem de soluções de reaproveitamento e revitalização dos espaços. O que urge fazer? Investigadores da NOVA FCSH tentaram perceber o fenómeno e dar respostas.
Os pequenos centros comerciais e galerias espalhadas pela cidade estão hoje, na sua maioria, em estado de degradação ou em vias de encerramento. São cerca de 50 edifícios, personagens da “crónica de uma morte anunciada”, como Teresa Santos, Nuno Soares e Sérgio Velez, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Socias (CICS.NOVA) da NOVA FCSH, apelidaram o artigo (2020) sobre este fenómeno.
Os investigadores fizeram um levantamento destes espaços em agosto de 2019 (onde excluíram os centros comerciais Amoreiras, Vasco da Gama, Colombo e dois hipermercados) e, através da sua classificação, perceberam o estado destes edifícios. Dos 38 espaços comerciais e galerias, oito sofreram obras de reabilitação e quatro foram alvo de restruturação “profunda do espaço original”. Os restantes 12 edifícios foram encerrados. As Avenidas Novas e Santo António são as freguesias com mais centros comerciais e galerias, cada uma com oito destes imóveis.
Um dos principais problemas para a revitalização destes espaços em pleno coração de Lisboa prende-se com a fraca luz natural destes edifícios (48% dos 50 imóveis) que condiciona a sua rentabilização para espaços habitacionais. Por outro lado, os detentores destes espaços privados são um entrave à mudança e “as soluções terão que ser várias pois variado é o regime de copropriedade das pequenas frações comerciais”.
Apenas 15% do levantamento dos investigadores apresenta uma taxa satisfatória de ocupação comercial, divididos em dois grupos, apontam os investigadores. Locais como o Picoas Plaza, o Centro Comercial Libersil, o Centro Comercial de Alvalade, o Centro Comercial Roma ou as Galerias Monumental são espaços que apostaram na renovação da restauração, das áreas de lazer e que se conjugaram com outros serviços como o de saúde, de atividade física, de serviços públicos ou de co-working.
No outro grupo, o Centro Comercial Arco Iris (que abriu portas em 1976), o Centro Comercial Apolo 70 (1970) ou o Centro Comercial Novo Areeiro (1989), todos localizados nas Avenidas Novas, são exemplos de espaços que continuam ativos, mas apresentam uma clara desvalorização dos estabelecimentos comerciais. Porém, uma ordem judicial decretada pelo Tribunal em julho de 2021, ordenou o encerramento, por tempo indeterminado, de um destes centros comerciais e o mais antigo de Lisboa, o Apolo 70.
Mas o que levou, em primeiro lugar, ao declínio destes espaços? A localização geográfica não foi um fator, já que a centralidade destes imóveis é única. Os investigadores apontam a fraca gestão dos espaços, “sendo em muitos casos cada lojista responsável pelo seu espaço e pouco empenhado numa lógica de gestão partilhada e planeada que vise uma estratégia de comunicação comum”, no fundo, o trabalho em prol de uma “marca única” que caracterize o centro comercial. Outro fator passou, também, pela utilização crescente do comércio digital.
Com a ocupação de milhares de metros de um dos bens mais preciosos de uma cidade – o solo – “o que urge é recuperar estes espaços para novos usos e o seu usufruto de todos. Solo urbano construído, é um recurso que tem que ser aproveitado racionalmente e não pode ser deixado ao «abandono»”, refletem os investigadores.
Fotografia: Centro Comercial Apolo 70. Créditos: Miguel A. Lopes/LUSA.
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