Nos últimos anos, a arte urbana tornou-se uma marca de Lisboa. O projeto de investigação TransUrbArts segue-lhe os passos.
Bordalo II ou VHILS são dois dos nomes conhecidos de street art ou arte urbana, com peças espalhadas por Lisboa. Há mais de uma década que a arte urbana surgiu na capital e o contraste entre a história dos monumentos e das obras de arte pintadas a “céu aberto” é cada vez mais notório.
“A paisagem lisboeta é bastante rica do ponto de vista deste tipo de expressões, que tanto podem ser de natureza informal e ilegal, como podem envolver obras encomendadas, comissionadas e reguladas”, o que tem atraído mais turistas e originado visitas guiadas, escrevem no artigo (2019) Ricardo Campos e Ágata Sequeira, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da NOVA FCSH e membros do projeto TransUrbArts.
Os investigadores referem que a mediatização da arte urbana na cidade se deveu a um conjunto de fatores, entre eles, a promoção através da Câmara Municipal de Lisboa (CML), porque “por um lado, na criação de condições materiais (logísticas, financeiras, etc.) para que a comunidade de artistas se consolidasse e desenvolvesse a sua prática na cidade e, por outro lado, na legitimação, valorização e institucionalização de um movimento que era algo marginalizado”.
O graffiti ilegal, uma das formas de arte urbana, começou a ser praticado principalmente na zona histórica de Lisboa e, para resolver esta questão, o Departamento de Património Cultural da CML resolveu criar a Galeria de Arte Urbana (GAU), em 2008, que permitiu o graffiti legal. Desde a inauguração do espaço na zona histórica, organizaram-se duas exposições anuais entre 2008 e 2014 e apoiaram-se outras iniciativas de arte urbana, como o festival internacional de arte urbana Muro, em 2019.
A internacionalização desta forma de arte promovida pela CML permitiu “que esta poderia ser uma mais-valia para a cidade, com repercussões em termos culturais, artísticos, simbólicos, mas também económicos”, afirmam os investigadores. Além da aposta da autarquia e do crescente turismo na cidade antes da pandemia, os empreendedores locais tiveram um papel importante na dinamização da arte urbana através de roteiros turísticos.
Os investigadores entrevistaram os empreendedores e observaram tours especializados nesta temática entre 2017 e 2018 e consultaram diversas fontes documentais como plataformas online, guias turísticos, entre outros. Perceberam, assim, que os roteiros começaram a aparecer na cidade em 2013, embora hoje em dia existam mais de uma dezena de empresários nesta temática.
Contudo, “estamos a falar, na generalidade dos casos, de entidades de pequena dimensão, nalguns casos constituídas por apenas uma pessoa, que serve como guia turístico. Falamos de pequenas empresas de turismo, de associações informais, de guias individuais, de aloja- mentos locais e de galerias de arte que promovem os seus tours, etc”, com preços variáveis e sempre com a promessa de conhecer “uma Lisboa diferente, fora dos circuitos turísticos habituais”.
Os investigadores apontam que algumas destas empresas estão certificadas pelo Turismo de Lisboa e a natureza dos roteiros varia: ora podem ter um caminho fixo, como podem ser flexíveis, conforme o que o turista quiser visitar. Para além dos roteiros a pé, outros são feitos em bairros da periferia da cidade através de transporte da empresa. Porém, “um dos tours que atrai maior número de participantes – chegando a dezenas, em época alta – é precisamente um tour que se foca na zona central de Lisboa, no Bairro Alto”.
O perfil do turista é maioritariamente estrangeiro e de diferentes faixas etárias. Uma das razões para o sucesso destes roteiros é que “os tours de arte urbana contribuem para que a cidade de Lisboa seja conotada com um lugar de diversidade, cosmopolita, moderno e, portanto, apelativo a um sector turístico porventura diferente daquele que privilegia os circuitos clássicos”.
Os investigadores perceberam, através do trabalho de campo, que a apesar da lenta e gradual aceitação e consagração da arte urbana na cidade, através dos poderes locais, este tipo de expressão alterou a paisagem da cidade e cativou mais curiosos e turistas.
Fotografia: Artur Bordalo. Créditos: Rodrigo Antunes/LUSA.
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