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Arrendar casa em Lisboa é mais difícil do que comprar

Só entre 2017 e 2018, as rendas no concelho de Lisboa subiram tanto que se tornou mais difícil arrendar casa do que comprá-la. Dois investigadores da NOVA FCSH traçam o panorama no final de 2018.

A procura de habitação em Lisboa pode ser uma dor de cabeça, seja para comprar seja para arrendar. Só entre o segundo trimestre de 2017 para o homólogo de 2018, a taxa de esforço das famílias para arrendar casa no concelho de Lisboa aumentou de 59% para 67%, logo a seguir a Cascais (em que a taxa de esforço era de 68% no último semestre de 2018).

Esta percentagem “exige um esforço financeiro mensal superior a 40%, consumindo, desta forma, parte substancial do rendimento familiar”, explicam João Seixas e Gonçalo Antunes, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Socias (CICS.NOVA) da NOVA FCSH, no artigo (2019) publicado na revista Cidades, Comunidades e Territórios.

 A taxa de esforço média das famílias é ainda maior quando se olha à lupa as freguesias do município de Lisboa. No topo da percentagem entre o período analisado estão as freguesias de Parque das Nações (99%), Avenidas Novas (94%) e Santo António (90%), que apresentam valores de arrendamento que, para a maioria da população, são insustentáveis.

No total das 24 freguesias de Lisboa, apenas quatro se encontram abaixo do limiar dos 50%, apesar de serem superiores a 45% – Ajuda (49%), Marvila (48%), Beato (46%) e Santa Clara (46%) – o que significa um grande esforço das famílias e limita o acesso ao mercado de arrendamento.

A verdade é que é cada vez mais difícil para os indivíduos em início de vida ou mesmo para estudantes conseguirem arrendar uma casa no concelho que seja equilibrado com o rendimento. Nas freguesias de Lisboa, famílias com ordenados baixos (50% do rendimento líquido médio mensal, ou seja, pouco mais de 485 euros) e de 75% do rendimento líquido médio mensal (ou seja, 735 euros) é praticamente impossível arrendar uma casa.

Na Área Metropolitana de Lisboa (AML), com exceção da Moita, todos os concelhos têm uma taxa de esforço superior a 30% no mercado de arrendamento. Assim, esta taxa é maior para o arrendamento do que para a compra de casa na AML, “situação que configura fragilidades relevantes face às necessidades habitacionais dos segmentos sociais com menores rendimentos e, de igual forma, condiciona a mobilidade residencial da população”, apontam os investigadores.

No panorama geral, as famílias não conseguem suportar as rendas da maioria dos concelhos centrais da AML, pelo que, na maioria, procuram habitação nos concelhos mais periféricos, por serem mais acessíveis.

“A concentração do aumento dos preços e das rendas, e as mais elevadas pressões financeiras na potencial compra ou arrendamento de habitação nas principais centralidades da metrópole, a manter-se no médio prazo,” referem os investigadores, “pode estar a provocar uma nova tendência de desconcentração populacional e mesmo de segregação socioespacial, de escala metropolitana”.

Este cenário está a modificar a paisagem urbana, principalmente o centro histórico de Lisboa, com a maior aposta nos Alojamentos Locais (AL) e Airbnb (Air Bed and Breakfeast, ou seja, Air cama e pequeno-almoço, em português). Este trabalho foi realizado de acordo com os dados do INE, entre 2017 e 2918. No futuro, devido às repercussões da pandemia da Covid-19, muitas destas tendências poderão sofrer inversões significativas.

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