O crescimento de atividades terciárias ligadas à criatividade e lazer, e a diminuição do comércio a retalho são indicadores da transformação que está a ser vivida em Marvila e no Beato. Investigadores da NOVA FCSH foram perceber a mudança económica desta zona para um novo espaço social, sinónimo de qualidade de vida.
A faixa oriental de Lisboa ainda é uma área ligada à produção, armazenagem, à reparação de veículos a motor. Porém, o número de estabelecimentos deste tipo em Marvila e no Beato diminuiu 28% (de 216 para 166) e o número de empresas prestadoras de serviços sediadas nestas freguesias aumentou 9%, de 2010 para 2019. Estas são algumas conclusões de João Oliveira, do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da NOVA FCSH, Teresa Santos e Nuno Soares, investigadores do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da NOVA FCSH, neste artigo (2020), onde que quiseram perceber a evolução económica destes lugares.
Os autores compararam os dados do último recenseamento comercial de 2010 com o levantamento funcional da sua autoria em março de 2019, “podendo-se justificar como o principal motor desta tendência o declínio acentuado do comércio a retalho na Rua Direita de Marvila, Rua Capitão Leitão e Rua Afonso Annes Penedo”, apontam. Esta transformação está a modificar a paisagem oriental da cidade.
Os investigadores assinalaram os quatro núcleos de atividades comerciais de Marvila e Beato, de norte para sul: o primeiro, que começa na Rua do Vale Formoso, onde existem vários estabelecimentos ligados ao comércio, à manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos; o segundo, na Praça David Leandro da Silva, que possui atividades ligadas a atividades desportivas, de lazer, de diversão e ao comércio a retalho (exceto veículos e motociclos); o terceiro, na zona intermédia da Rua do Grilo, que “destaca-se pela forte representatividade” do comércio a retalho, menos de motociclos e veículos automóveis; e por último, o quarto polo localiza-se na Galeria Comercial de Xabregas, onde se encontram atividades ligadas à restauração e semelhantes e ao comércio a retalho (exceto a veículos e motociclos).
Contudo, apesar de as atividades terciárias criativas e de lazer ganharem terreno e o comércio a retalho estar a diminuir, os autores indicam que “é necessário referir que a par de toda a evolução observada, há ainda quem não beneficie diretamente da evolução sociocultural recente: a segunda e terceira geração do êxodo rural do início do século, que habita as vilas e bairros operários que vão persistindo à mudança dos tempos e das vontades, é por vezes marginalizada durante a conceptualização da cidade do futuro”. Alertam ainda “para que os erros do passado não se tornem a repetir, é necessário planear objetivando a minimização das desigualdades sociais e a justiça territorial”.
Marvila e Beato foram dois dos pólos industriais mais importantes até ao último quartel do século XX, com as suas fábricas e vilas operárias. Mas o encerramento destas indústrias deixou grandes espaços votadas ao abandono. Hoje são laboratórios “onde o objetivo é criar um novo espaço social e de produção urbana contemporânea em que a comodidade e o funcionalismo estão permanentemente no centro das preocupações”, referem os investigadores.
Fotografia: Uma das fábricas de Abel Pereira da Fonseca, em Marvila, que se dedicava à produção, comercialização e distribuição de vinhos e licores. Créditos: Ana Sofia Paiva
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